Obrigada Mãe

Mãe:

Obrigada porque tiveste na tua vida um lugar para a minha vida, renunciando a tantas coisas boas que poderias ter saboreado. Porque – mais do que isso – fizeste da tua vida um lugar para a minha, e de muitas maneiras morreste para que eu pudesse viver.
Porque se calhar até tinhas medo, mas tiveste a coragem de embarcar numa aventura
que sabias não ter retorno, a de me teres dentro de ti durante nove
meses, de me fazeres nascer e de me educares até hoje!
Porque não fizeste as contas para avaliar se a minha chegada era conveniente: abriste simplesmente os braços quando eu vim… Porque não só me aceitaste como era, como estavas disposta a aceitar-me fosse eu como fosse. Porque dirias "é a minha filha" mesmo que eu tivesse nascido deformada, e me contarias histórias ainda que eu tivesse nascido sem orelhas. E me levarias ao colo mesmo que eu fosse leprosa. E, mesmo com tudo isso, me mostrarias com orgulho às tuas amigas. Porque seria sempre a tua bebé linda. Devo-te isso, embora não tenha acontecido, porque o farias, simplesmente porque o farias e eu sei que assim o seria.
Obrigada porque não tiveste tempo para visitar as capitais da Europa só com
paizinho, porque me estavas a dar a conhecer o nosso Portugal. Porque as tuas
amigas saíam para o café e tu ias comigo ver cavalos ou brincar para um
jardim.
Porque não te deixei dormir e estavas sorridente no dia seguinte ou tentavas fazer por estares assim, mesmo estando a dormir em pé. Porque me sossegaste dizendo "não chores, a mãe está aqui", e estar no teu regaço era tão seguro como dormir na palma da mão de Deus. Ainda hoje o é, e sempre será assim, o colo da minha mãe é o
lugar mais seguro do mundo.
Obrigada porque é pensando em ti que posso entender Deus e compreender que existe a palavra amor. Obrigada porque não tiveste vergonha de mim quando eu fazia birras num lugar público, ou me enfiava debaixo da mesa do restaurante porque queria comer um gelado antes da refeição.
Obrigada porque me davas um pedaço de pão antes de me deixar dormir e me coçavas as costas pela manhã, só porque eu te pedia. Por me dizeres “gosto muito de ti” todas as noites e de ouvires o meu sentimento também porque eu tinha medo de não te ter no outro dia ao pé de mim… E porque suportaste que eu, na adolescência, tivesse as minhas manias.
Obrigada porque fizeste de costureira e aprendeste a fazer bolos com os quais eu
me deleitei durante anos. Porque passaste uma boa parte dos fins de
semana a ver desenhos animados, a ir aos festivais de ginástica para quando eu
perguntasse "viste-me, mãe, viste-me?" - pudesses responder com sinceridade e orgulho "é claro que te vi!".
Obrigada por o teu coração ser do tamanho de me teres dado uma irmã, que nasceu
primeiro do que eu. Como eu seria pobre se não a tivesse!
Obrigada pelas lágrimas que choraste e nunca cheguei a saber que choraste. Obrigada por teres olhado para os meus mergulhos de cabeça na praia, mesmo tendo um medo horrível que me acontecesse alguma coisa. Sabias
como era importante para mim ter o teu olhar. Obrigada porque me ralhaste quando me portei mal nas lojas, quando bati os pés com teimosia, quando "roubei" batatas fritas antes de o jantar estar servido ou quando não arrumava a roupa. Obrigada por me teres mandado para a escola quando não me apetecia e inventava desculpas. E por me teres mandado fazer tarefas da casa que tu bem melhor e muito mais
depressa farias, mas que eu devia fazer para as aprender, mesmo que as fizesse de um modo que não o teu.
Obrigada por teres mantido a calma quando eu fugi da escola no dia dos teus anos e me levaste ao médico porque eu não estava bem. Obrigada por teres querido conhecer os meus amigos, e por todas as vezes que não me deixaste sair à noite de casa
sem saberes muito bem com quem ia e onde ia. Obrigada por me levares com nove anos para montar um cavalo, mesmo com um medo incrível que eu me magoasse, sabias que era uma paixão minha! Obrigada por me ralhares porque o curso não está acabado mas ao mesmo tempo respeitas o meu tempo e sabes que sou mesmo assim…
Obrigada porque eu cresci e o teu coração parece ter também crescido. Porque me deste coragem. Porque aprovaste as minhas escolhas, e te mantiveste a meu lado apesar de ter passado a haver a distância. Porque levantas a cabeça - mesmo sabendo
que eu estou muito longe - quando vais na rua e ouves alguém da multidão chamar:"mãe!".
Obrigada por guardares como tesouros os desenhos que fiz para ti na escola, e por ficares à janela a ver partir o carro, quando me vou embora.
Obrigada – já agora... - por não teres esquecido quais são os meus pratos favoritos e por os fazeres como mais ninguém o faz, aquelacanjinha de galinha da avó e um prato com muitas batatas fritas… Obrigada por seres a minha paciência, o meu
delírio, o meu devaneio e a minha impetuosidade! Obrigada por me teres dado asas para voar e por me ensinares a ter paixão, amizade e arte na minha vida… Obrigada por existires e por seres minha mãe! És linda, como o teu próprio nome indica… Amo-te para sempre!!


(#obrigada também a ti sissinha, pelo texto no qual me inspirei.)

1 d´um raio:

Anónimo disse...

Bela escolha.
Também sou apreciadora dos textos de Paulo Geraldo.

Ana

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