Aconteceu...

Um dia acordas e já não estás ali! Sentes-te presa ao que te corta a respiração e por uma razão inexplicável acordas mas não abres só os olhos. Despertas e voltas a sentir o que achas que faz parte de ti... Ouves novamente o sangue a correr-te nas veias e não te achas tão banal e tão inútil como em outros tempos.
De repente, sem saberes porquê o que te servia de consolo e de abrigo deixa de fazer sentido, e é aí que te dás conta de que tu deves ser o teu porto de abrigo! Deves ser tu a abraçar-te e a acarinhar-te, porque só tu conseguirás sair de onde te falta o ar, do sítio que te faz ser podre e do qual tens medo, por isso um dia acordas e dizes a ti própria que já chega!!
Começas a esgravatar a tristeza e a manda-la embora, e os momentos de combate contigo mesma tornam-se cada vez menores. Aquilo que te magoa vai-se embora aos poucos e voltas timidamente a sorrir.
Antes, corrias amedrontada, tentando segurar um castelo de areia. Querias voar, mas não tinhas sequer uma janela para abrir as asas e ir ver o Mundo...
Não tenhas medo, também eu passeei no mar, numa barca de onde não conseguia ver terra firme, nem gaivotas nem sereias... Sorrio-te, porque abriste a janela e voaste, tal qual eu voei numa noite estrelada em alto mar. Abri o Mundo em dois, e nem sequer tive medo de me afundar, pois jamais me iria faltar a luz da lua cheia.
Um dia acordas, e já não estás ali, mas não tem mal... Estas coisas do coração são assim. Estas coisas de não querermos ser mais quem somos ali, quem fomos, não são de todo nefastas... Parece-te que ruiu uma parede e que o coração te fugiu de repente por uma fresta aberta e de repente sentes-te bem com isso.
Foges, tocas no ombro e dizes "olá", e então sorris porque a tua marca ficou lá, e dizes "ainda bem que voltaste"!


Aconteceu... Finalmente aconteceu! Agora sentes que tens pernas, coração, olhos ávidos de novas paisagens e nariz que pede novos cheiros...
Repousa a lente pela qual vês o Mundo e guarda alguns momentos para fotografar com os olhos que tens e que são teus... A maior riqueza de um viajante é conseguir fechar os olhos e reviver as suas viagens pela lente dos seus olhos.
Fica com um beijo, com carinho e um sorriso cúmplice.

0 d´um raio:

Enviar um comentário