Polaroids

Tenho-me vindo a dar conta de que os rolos de fotografia e as revelações "à moda antiga" quase que desapareceram... Além de serem extremamente caras, já ninguém tem paciência para manter a paixão pelo cheiro das fotografias quando chegam às nossas mãos, para manter o nervoso miudinho do "será que ficaram boas"...
Longe vão os tempos em que tirávamos uma fotografia, uma única fotografia... Contra mim falo, mas antigamente, ficássemos bem ou mal, de boca aberta ou de olhos fechados, desfocados ou não, quando íamos buscar, passados três ou quatro intermináveis dias, as nossas fotografias (em papel mate ou brilhante!), tínhamos "O" momento!
Para quem não revelava as suas próprias fotografias, era o momento de emprestarmos as "tirinhas" de negativos para se fazerem cópias. Tínhamos direito a álbuns de capa dura ou não, que supostamente teriam 24 ou 36 "micas" transparentes para aparentemente termos as fotografias arrumadas. E era um mimo...

Hoje, as máquinas são digitais.... As fotografias são feitas no momento. Mas mesmo no momento! Vemos o resultado, e se algo correr mal, desfocados, tremidos, fazemos outra... Repetimos... Fotografamos outra vez... "Fingimos" um momento que já passou, antecipando um futuro perfeito...
Eu, como na vida, disparo e preservo a fotografia, independentemente dos defeitos. Depois logo vejo, na inquietação de encontrar um sorriso, um olhar, um momento, um frame que tenha saído bem e que mereça o destaque especial dentro de álbuns digitais ou não.

Continuo a revelar fotografias. Tenho amor aos tempos modernos dos cartões de memória que me permitem disparar centenas de vezes o botão, mas continuo a achar que eles, esses, os momentos têm direitos, deveres e responsabilidades.

Continuo a fixar na minha mente, metaforicamente falando, os momentos desfocados, saudosos, tremidos, felizes, de boca aberta e coração cheio que vou revelando de quando em vez na memória. São momentos vividos, que trago comigo para sempre, ora organizados (já) nos ditos álbuns ora por organizar, que não há nada mais sedutor do que fazer amor com a memória com fotografias espalhadas pelo chão...

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