Escrevo-te esta carta

Carta a um conhecido meu:

Quero falar-te das lágrimas, das minhas lágrimas. Antigamente, elas corriam-me, livremente pelo rosto, e agora escondem-se. Amedrontam-se dentro de mim, no quente do meu corpo e já são livres. Agora são minhas, só minhas, já não são nossas. 
Antigamente as minhas lágrimas eram minhas e de quem as visse, porque muitos eram os que as viam. Chorava aqui e ali, sem medo de ser olhada fosse por quem fosse. Podiam significar tudo, uma alegria ou uma tristeza, uma vitória ou um desembaraço meu. Podiam ser pequenos pontos de viragem ou podiam ser de sensibilidade, só... Alturas houve em que as lágrimas que me assaltavam os olhos e me corriam pela face era por tua causa. Por todos os sorrisos e gargalhadas que tu davas eu percorria um caminho cada vez mais solitário, por meio de pessoas que não conhecia, e hoje, que até tenho motivo para chorar, encolho-me na minha vida pequena e pequena vou ficando, voltando ao escuro do buraco de onde saí e para onde não quero voltar.  
E tu, ficas sentado no degrau de casa a olhar, sem discutires porque o cansaço te é conhecido e deixas-me ir mesmo quando sabes que quem me trás de volta já cá não está. E eu sei, e eu sinto, e eu sei... Um dia vamos todos olhar para trás e pensar no caminho que devíamos ter percorrido. Com ou sem dor, vais procurar-me. Vais procurar-me sempre, porque eu sou a pele da tua pele.

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