Divórcios passageiros

Há em nós um desejo incrível que é nosso e só nosso. Quando somos pequenos achamos que só os nossos pais têm razão. Os nossos pais são os nossos heróis... Depois disso, passamos, enquanto jovens, por uma fase totalmente diferente. Temos vergonha dos nossos pais, não porque são nossos pais mas porque é mesmo assim. Somos jovens, inconsequentes e achamos que somos sempre nós que temos razão. Tudo gira à nossa volta, e não nós com o Mundo num girar em constância.
Eu não passei por essa fase... Sempre achei que os meus pais eram os meus melhores amigos. Há relativamente pouco tempo ouvi uma frase sábia, que me fez reflectir sobre a suposta amizade que tenho com os meus pais. Eles, que sabem uma série de coisas sobre mim, já não são os que melhor me conhecem, porque depois da fase jovem vem a fase a pré-adulta (que eu acho que já deveria estar ultrapassada em ambas as partes), em que chocamos e em que temos altos e baixos. Estamos bem afastados mas não estamos bem, porque não é normal. Queremos estar juntos mas é-nos difícil, porque chocamos. Nesta fase, a vida já é nossa (minha leia-se), mas os nossos pais não nos deixam ou por vezes não conseguem deixar-nos viver. Não, não é por mal, é mesmo assim.
Na maior parte das vezes as coisas acalma. Os filhos saem de casa e por muito que escolham certo ou errado acabam por começar a viver cada vez mais a sua vida. Vai-se cortando o cordão umbilical e as coisas descomplicam-se.... Ao contrário de mim... Sempre a contrário de mim, que insisto em que os meus pais deviam/podiam ser os meus eternos amigos. Aqueles que me ajudariam a resolver qualquer questão e que estariam sempre prontos para apoiar as minhas escolhas, fossem elas quais fossem. Dar-lhes-ia o direito de me contestar claro, porque esse sempre foi deles, mas no fim acharia que me apoiariam sempre. 
Hoje não... E hoje cansada de alguma contestação, relembro a conversa que alguém sábio teve comigo há não muito tempo atrás: "os teus pais não andaram contigo na escola. A vossa amizade de 30 anos não é uma  amizade comum. Na verdade são OS TEUS PAIS. Da-lhes o direito de serem indivíduos de de escolherem aceitar-te ou não."
Hoje, hoje escolho eu não aceitar uma acção a sorrir. Não pelo sítio que me foi dado a escolher para viver, não pela decisão de ter o cabelo comprido e andar de saltos, não pelo facto de beber uma bebida alcoólica ou por gostar de escrever e de me rever na noite tanto como no dia. Não pelo facto de gostar de cavalos e de cães e de gatos e preferir animais de quatro patas aos de dois como os pássaros... Não pelo facto de gostar de praia e tanto do nascer como do por do Sol, mas simplesmente pelo facto de hoje, não terem sido amigos nem pais.

Mas.... Isto é só um desabafo. Passará.

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