Onde é que tu ias, que me deixaste tão sozinha numa noite fosforescente de uma qualquer estação? Entre nuvens aureoladas corria a lua e as pedras faiscavam com falsas estrelas...

Onde é que tu ias, apressada e pensativa, sem me dizeres se voltarias ou não? Desapareceste numa esquina sem olhar pra trás e eu via-te a andar, mesmo assim, sem te ver no encalço da lua.
E eu que perseguia a noite, o vento e as nuvens...

Onde é que tu ias, que me deixaste tão triste? Os meus pés são pequenos e o caminho era longo... A tua sombra subia pelas paredes lisas e estreitas e pelos portões de ferro e janelas transparentes no mundo de estátuas coloridas e sonhos me deixaste sozinha...

Onde é que tu ias, que deixaste o meu coração ferido sem mais uma pessoa? As minhas mãos estão estendidas à toa... Entre pedras de saudades, medo e solidão. Esmagada e fria como um pequeno grão
Feito uma lágrima dolorida em repouso...

Onde é que tu ias? Velar algum doente? Consolar uma agonia maior que a minha? Tu, que me entendeste profundamente, que leste minha vida e acreditaste em mim e que me confortaste tantas vezes...

Onde é que tu ias? Podias ter anunciado a tua partida e ao menos feito uma despedida... A ti mostrei toda minha alma translúcida e hoje com pena penso em ti que não me entendes, que já não me chamas e não me escutas, que me envolveste toda em espinhos!

Embora, tenhas voltado, ou te tenha mandado eu agora embora, esta noite está escura! Ficou desenhada na memória e não esqueço não... Ando à tua procura saltando o tempo... Sem pedir licença ao vento e as nuvens
Onde é que tu ias, sem me pedir perdão? Sem me perdoar? Onde é que tu ias dizendo ao Mundo que eu já não era eu?

(as pessoas magoam-nos, nós magoamos...)